Cerca de 100 pessoas estiveram no Salão Nobre da Câmara Municipal de Cantanhede para assistir à tertúlia sobre “A Comunicação Social no Feminino”, iniciativa promovida pela autarquia para assinalar o Dia Internacional da Mulher, a 8 de março.
Na abertura da sessão, a presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, salientou que celebrar o Dia Internacional da Mulher é, fundamentalmente, para “interpelar as consciências relativamente à persistência de fatores que concorrem para a negação
dos seus direitos, mesmo nos contextos em que houve uma assinalável evolução no reconhecimento do seu estatuto e do seu papel a nível familiar, profissional, social e político”.

Nesse sentido, sublinhou a autarca “continua a fazer sentido refletir sobre esta efeméride que, à semelhança de outras, visa reforçar a mobilização coletiva para a construção de uma sociedade mais justa e socialmente mais coesa, uma sociedade onde não haja discriminações ou exclusões de qualquer ordem”.
Participaram na tertúlia Oriana Pataco, Rita Marrafa de Carvalho, Sofia Mesquita e Fátima Paz, quatro mulheres que têm desenvolvido atividade jornalística em diferentes contextos e cujo testemunho foi o ponto de partida para uma reflexão sobre como a condição feminina pode influenciar o desenvolvimento de uma carreira nesse âmbito.
Oriana Pataco, diretora do Jornal da Bairrada desde janeiro de 2014, abordou os diversos desafios que o jornalismo enfrenta atualmente, nomeadamente os baixos salários praticados no setor e as dificuldades decorrentes das cada vez mais frequentes fake news e a necessidade de reforçar os mecanismos de escrutínio.
A propósito da exigência que se coloca aos jornais de conquistarem e formarem novos públicos, Oriana Pataco falou do “JB vai à escola”, um projeto do jornal que dirige focado na sensibilização das crianças para o combate à desinformação.
Sobre a condição feminina em contexto profissional, a jornalista considera que “as mulheres devem ascender aos cargos por mérito e não por género”, sublinhando que “a liderança deve ser determinada pelas competências e qualidades de cada pessoa, independentemente do sexo”.
Rita Marrafa de Carvalho, jornalista na RTP desde 2000, começou por lembrar que “no fascismo a mulher não tinha voz, não tinha corpo, não tinha opinião. Para sair do país precisava de autorização do pai ou do marido. Uma mulher não podia ganhar mais do
que o seu marido. Foi há 50 anos e é bom termos memória disso, os jovens precisam ter memória”, afirmou a jornalista, sublinhando que “cabe aos educadores lembrar- lhes”.
Para Rita Marrafa de Carvalho, “é triste termos um dia para lembrar que a mulher tem de ser respeitada. Dia feliz será aquele em que não houver necessidade de celebrar o Dia Internacional da Mulher”, sublinhou.
Sofia Mesquita, jornalista do Jornal Boa Nova, admitiu ter presenciado casos de assédio noutra empresa em que trabalhou, “situações muito constrangedoras que afetaram muitas colegas e que de algum modo influenciaram a decisão de procurar outro local para trabalhar”.

Fátima Paz, antiga colaboradora de vários jornais, falou um pouco da sua experiência na imprensa regional, ainda que esta não tenha sido a sua atividade profissional principal. “O jornalismo de antigamente e o de agora são totalmente diferentes. […]
Para quem nasceu numa ditadura e cresceu numa democracia, não foi fácil enveredar pelo mundo do jornalismo”, afirmou, adiantando que gosta muito desta atividade de que se afastou um pouco, “devido, entre outras razões, à dificuldade em a conciliar com a vida pessoal”.