Há 12 anos, na madrugada de 15 de dezembro de 2013, seis estudantes da Universidade Lusófona perderam a vida na Praia do Meco, distrito de Setúbal, arrastados por uma onda durante um episódio que continua sem resolução e levanta mais questões do que respostas. Esta segunda‑feira, familiares reuniram‑se numa missa de homenagem aos filhos, numa cerimónia marcada pela dor permanente e pela luta por justiça.
A tragédia
Na noite de 14 para 15 de dezembro de 2013, um grupo de sete estudantes da Comissão Oficial de Praxes Académicas (COPA) da Universidade Lusófona tinha reunido numa casa alugada na zona de Aiana de Cima, em Sesimbra, para um fim‑de‑semana de actividades que, segundo vários familiares e observadores, incluíam rituais de praxe. Na madrugada seguinte, seis deles foram arrastados pelo mar quando se encontravam na praia. Apenas João Miguel Gouveia, então ‘dux’ (líder da praxe), sobreviveu e regressou a terra para dar o alerta.
Nos dias seguintes, as buscas da Polícia Marítima recuperaram os corpos dos seis estudantes, incluindo Tiago André Campos, o primeiro encontrado.
Investigação e críticas
Desde o início, a investigação judicial foi alvo de fortes críticas por parte das famílias das vítimas, que consideram que não houve uma apuração séria de todas as circunstâncias e que factos importantes não foram devidamente recolhidos ou analisados. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) acabou por condenar o Estado português por uma investigação tardia e “ineficaz”, apontando que medidas urgentes poderiam ter sido tomadas logo após a tragédia e que a integridade das provas não foi assegurada.
O inquérito criminal, aberto imediatamente após o acidente, foi arquivado em julho de 2014 por falta de indícios de crime e reaberto em outubro do mesmo ano quando João Gouveia foi constituído arguido. Em março de 2015, o processo‑crime acabou por não seguir para julgamento, com os tribunais nacionais a considerarem que os estudantes, todos adultos, participaram voluntariamente nas actividades e que não havia prova de que o ‘dux’ tivesse exposto deliberadamente alguém a perigo.
Ação civil e absolvições
Em 2016, as famílias avançaram com seis ações cíveis contra o sobrevivente e a Universidade Lusófona, reclamando cerca de 1,3 milhões de euros em indemnizações. O processo foi julgado pelo Tribunal de Setúbal e, em 2021, absolveu o ex‑dux e a academia, decisão confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça em abril de 2024, que considerou que nada foi apurado que permitisse responsabilizá‑los juridicamente pela tragédia.
Famílias querem reabrir investigação
As seis famílias continuam a lutar por esclarecimento dos factos e reclamam a reabertura do processo, argumentando que a investigação inicial foi insuficiente e que continuam sem conhecer a verdade completa sobre o que aconteceu naquela noite. Alegam ainda que o Estado português falhou na protecção do direito à vida dos seus filhos e que as lacunas na investigação judicial impedem que possam exercer o devido luto e obter justiça.
Sobrevivente sem declarações públicas
O único sobrevivente, João Miguel Gouveia, nunca prestou declarações públicas detalhadas sobre os acontecimentos da noite da tragédia, mantendo‑se em silêncio mediático durante grande parte do processo. Em audições judiciais anteriores, chegou a negar que o grupo estivesse a realizar uma praxe, alegando que a ida à praia tinha sido uma sugestão de outros membros do grupo, o que tem sido rejeitado pelos advogados das famílias.
Memória e homenagem
Hoje, os pais reuniram‑se para recordar os filhos, com palavras de saudade e crítica à forma como o caso foi tratado: “Perder um filho é uma ferida que não sara… é a luta da minha vida, não se consegue ter paz”, disse uma mãe em declarações aos media. A tragédia do Meco permanece um episódio doloroso na memória colectiva, com familiares e parte da sociedade a exigir que se saiba o que realmente aconteceu naquela noite de dezembro de 2013.

