Oito anos depois de ter assumido a presidência da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, Duarte Novo entra no terceiro e último mandato com a convicção de que o concelho “foi completamente transformado” e com um objetivo simples, mas exigente: deixar obra feita, consolidar o crescimento e preparar o futuro. Aos 48 anos, economista, filho de agricultores, nascido e criado em Bustos, o autarca olha para o território com o olhar simultaneamente técnico e afetivo de quem nunca se desligou das raízes.
Em entrevista ao programa “No Centro Político”, da TVC, conduzido por Nuno Soares, Duarte Novo falou longamente sobre demografia, habitação, indústria, associativismo, cultura, educação, turismo, Natal e família. No fim, deixou um desejo: ser recordado como alguém que contribuiu para o desenvolvimento de Oliveira do Bairro.

De Bustos para o município: o economista filho de agricultores
“Considero-me ainda um jovem, apesar dos meus 48 anos”, começa por dizer, com um sorriso. “O meu nome também ajuda: manter-me-ei sempre ‘Novo’”, brinca. Natural e residente em Bustos – hoje vila –, foi lá que cresceu, estudou e construiu grande parte do seu percurso de vida, antes de seguir para a Universidade de Coimbra, onde concluiu a licenciatura em Economia e uma pós-graduação em Fiscalidade.
Profissionalmente, passou pela área da auditoria, onde, diz, ganhou ferramentas essenciais para o exercício de funções públicas: “A auditoria dá-nos uma capacidade muito grande de interpretar a realidade, perceber o que está bem, o que está mal, onde é que o dinheiro está a ser bem aplicado e onde é que não está.”
Mas, apesar da formação superior, nunca largou a terra. Filho de agricultores, mantém uma ligação muito forte à agricultura, que assume sem complexos. É, aliás, frequente vê-lo em cima de um tractor. “Não é por achar giro, é por gosto. Sei conduzir e sei manobrar tratores agrícolas. Gosto de mexer nas coisas”, garante.
Casado com uma professora de inglês e português, pai de dois filhos – um adolescente de 14 anos e uma criança de 5 –, admite que a família é também um espaço onde a política entra diariamente: “O mais velho já questiona, já pergunta porque é que na escola não se pode ter isto ou aquilo, já traz o que vai ouvindo. O mais novo ainda não tem verdadeira noção da política, mas também vai absorvendo.”
Crescimento demográfico e rejuvenescimento: “Um dos municípios que mais cresce”
Quando chegou à presidência da Câmara, Duarte Novo diz ter encontrado o concelho numa trajetória de declínio populacional, apesar dos Censos 2021 apontarem um ligeiro crescimento de 0,9% face a 2011. A diferença foi percebida, defende, na dinâmica mais recente: “Hoje nota-se facilmente que é um dos municípios que mais cresce, ou talvez aquele que mais cresce na região de Aveiro.”
Com base em estudos da Universidade de Aveiro e da Universidade de Coimbra, em parceria com a CCDRC, o autarca sublinha que Oliveira do Bairro é apontado como o município que se poderá tornar “o mais jovem de toda a região Centro” e “aquele que mais cresce” a nível demográfico.
Essa transformação sente-se sobretudo nas “pontas” do concelho, em particular na zona poente, onde se verifica “um esfervilhar de casais e população jovem”. Na zona nascente, o crescimento é mais marcado por famílias “pendulares”, que vivem no concelho mas trabalham noutras paragens.
Esse aumento de população traz consigo responsabilidades: “Impõe-nos a obrigação de gerar riqueza e emprego, de garantir que quem decide vir residir para Oliveira do Bairro encontra trabalho, saúde, educação, divertimento e qualidade de vida.”

Habitação: recuperar casas, construir para quem mais precisa e criar incentivos
Uma das grandes “dores do crescimento” está na habitação. Duarte Novo descreve um território com enorme potencial habitacional, fruto de muitas casas devolutas e de boa qualidade: “Temos habitações com 20, 30 anos, que já foram construídas com outra qualidade, em tijolo, facilmente recuperáveis. Muitas estão a ser transacionadas, recuperadas e recolocadas no mercado, porque os proprietários envelhecem e os filhos optam por as vender.”
Paralelamente, a autarquia avançou com investimento direto em habitação social: “Temos cerca de 20 fogos já em construção ou em fase final de preparação, num total que ultrapassa as 50 habitações identificadas na estratégia local de habitação para famílias que, de facto, têm necessidade.” Este esforço foi feito, sublinha, muitas vezes antes de haver confirmação de financiamentos externos: “O município teve de ir avançando com as obras à medida das suas possibilidades, sem saber se o PRR vinha ou não. Felizmente, nos últimos meses, vários projetos foram aprovados e contratualizados.”
Mas o enfoque não está apenas na habitação social. Em 2025, Oliveira do Bairro aprovou um regulamento de benefícios fiscais adicionais para estimular a recuperação de imóveis nos centros urbanos e a sua colocação no mercado de arrendamento: “Para além do que já existe no Estatuto dos Benefícios Fiscais, criámos isenções de IMI e IMT em certas condições, para quem recupere casas nas vilas e as coloque no mercado de arrendamento. Queremos revitalizar os centros, sem que a autarquia tenha de intervir diretamente em toda a cadeia.”
Indústria, emprego e zonas industriais: “Vendemos uma zona industrial em duas horas”
Do ponto de vista económico, Duarte Novo não tem dúvidas: a indústria e a localização estratégica fizeram a diferença. “Há quem não perceba como é que o município conseguiu crescer desta forma”, admite. “Mas há muitas variáveis: educação, saúde, oferta comercial, acessibilidades e, claro, a nossa capacidade de sermos atrativos para a indústria.”
O município investiu em equipamentos estruturantes como escolas e polos de saúde em todas as “pontas” do concelho – o último ainda em construção – e beneficiou da proximidade à A17 e à A1. Agora, espera concretizar um novo nó de acesso à autoestrada, cuja viabilização está a ser negociada com a Brisa: “Daquilo que vou sabendo com a tutela, esse novo acesso está enquadrado na renegociação da concessão. Depois virá a fase da execução, que naturalmente levará o seu tempo, mas gostava muito de o ver concretizado ainda neste mandato”, confessa.
O sucesso das zonas industriais é um dos elementos de que fala com orgulho: “A zona industrial de Vila Verde foi vendida em duas horas. Costumo ouvir colegas dizerem que vendem uma zona industrial em dois anos. Eu posso dizer que vendi em dois dias, em duas horas.” O município prepara agora a expansão da zona industrial da Palhaça, mas com uma regra clara: “Nós não vendemos lotes para promoção imobiliária. Vendemos a quem quer criar emprego. Não vendemos a quem quer construir pavilhões para depois arrendar a terceiros.”
A par da venda de lotes, o município criou também benefícios fiscais para empresas, não apenas para as que chegam, mas também para as que já estão instaladas: “Não podemos olhar só para quem vem de fora. Quem cá está também tem direito a aproveitar os incentivos.”

Rede viária e trânsito pesado: a próxima fronteira
Quando questionado sobre a principal carência de Oliveira do Bairro, Duarte Novo não hesita: “Gostava de conseguir fazer uma alteração substancial na rede viária.” Reconhece que já foi feita uma transformação importante no centro da sede do concelho e que as vilas da zona poente foram pensadas, no passado, com outra visão urbanística. Mas admite que a zona nascente “não teve essa visão” e que hoje é preciso investir para corrigir e criar novas ligações.
O crescimento da indústria tem trazido muito mais camiões e movimento rodoviário, aumentando a pressão sobre as vias urbanas: “Precisamos de ligar rapidamente ao eixo central, à autoestrada, para tirar o trânsito pesado do centro de Oliveira do Bairro. É uma questão de qualidade de vida para os nossos concidadãos.”
Cultura, desporto e associativismo: um concelho em movimento
Se há área em que Duarte Novo se assume particularmente empenhado é a do movimento associativo e da oferta cultural e desportiva. O concelho tem mais de 100 associações nas mais diversas áreas – social, desportiva, cultural, recreativa e religiosa – e a Câmara investe, anualmente, mais de um milhão de euros no associativismo (sem contar com os bombeiros, que têm um regime próprio).
“Nós colocamos nas IPSS uma responsabilidade enorme: cuidar dos nossos filhos e dos nossos seniores”, sublinha. Ao mesmo tempo, destaca o papel das associações na coesão territorial, sobretudo na zona nascente, onde muitas surgiram como “força motora da aldeia” e forma de unir as populações.
Contudo, assume que existe hoje “uma crise de direções”: a geração que criou muitas dessas associações, nas décadas de 80 e 90, envelheceu, e as gerações seguintes nem sempre estão disponíveis para assumir cargos. “Temos de continuar a cultivar este movimento associativo, porque é essencial para fazer a festa da terra, criar apoio social e ocupar os tempos livres dos mais novos”, defende.
O apoio municipal, sublinha, não se limita à transferência de verbas: “Apoiar o associativismo não é só dar dinheiro. É dar salas, equipamentos, técnicos, soluções. Uma associação que queira usar o Quartel das Artes tem à sua disposição a sala, o equipamento e a equipa técnica, para poder apresentar um espetáculo e angariar fundos. Na Expolab, por exemplo, o município suporta custos de pavilhão, eletricidade e pessoas, muitas vezes superiores a 15 mil euros, para que o evento possa acontecer. Se não fosse assim, não teria condições.”
No desporto, a lista é extensa: futebol, voleibol, futsal – com destaque para o feminino no Oliveira do Bairro Sport Clube –, ginástica, basquetebol, atletismo. O concelho tem atletas que já representaram Portugal em várias modalidades. Um dos exemplos citados é o lançador de dardo Leandro Ramos, oriundo da terra do presidente.
Na cultura, o Quartel das Artes é hoje um motor de programação, mas o município prepara uma abordagem mais alargada: “Temos três auditórios – o Quartel das Artes, o auditório do Espaço Inovação e o de Oiã. Queremos fazer de Oliveira do Bairro também um centro de conferências, um espaço com capacidade para acolher outro tipo de eventos e oferta contínua.”

Comprar em casa: crítica aos maus exemplos
Duarte Novo é particularmente firme na defesa da economia local e não poupa críticas a quem, na sua opinião, dá maus exemplos – incluindo colegas autarcas: “Se nós não comprarmos em casa, ninguém o vai fazer. Devemos almoçar e jantar nos nossos restaurantes, comprar roupa nas nossas lojas, fazer compras nas nossas feiras, contratar serviços às nossas empresas.”
E vai mais longe: “Critico os autarcas – não só do meu concelho, mas de todo o país – que, podendo fazê-lo, não escolhem os negócios locais. Claro que nos concursos públicos a concorrência é o que a lei determina. Mas quando temos margem de escolha, devemos usá-la a favor da economia do nosso território.”
Admite que ainda não conseguiu “incutir todo o bairrismo” que gostaria nos oliveirenses, sobretudo no comércio: “Nem todos fazem as compras em Oliveira do Bairro, e isso é algo que precisamos de continuar a trabalhar.”
Democracia, verdade e descrença na política
Sobre o estado da política, Duarte Novo não esconde a preocupação: “Há uma descrença muito grande na política. Nos mais novos e nos mais velhos.” A responsabilidade, defende, está muitas vezes no modo como se comunicam promessas e limites.
“O que falta é dizer a verdade. Explicar que não há dinheiro para tudo, que é preciso fazer opções, que há projetos que demoram mais dois anos, que há obras que dependem do Governo ou da União Europeia”, afirma. “Se disséssemos a verdade às pessoas, talvez elas confiassem mais. Muitas vezes, prometem-se estradas, pavilhões e piscinas que não podem ser feitos no período do mandato. Depois, nada sai do papel e a descrença aumenta.”
Por isso defende que quem queira ser autarca deveria, antes, “fazer um curso intensivo” sobre o que é a função, a sua freguesia e o seu concelho.
Turismo: natureza, gastronomia, museus e indústria
A quem não conhece Oliveira do Bairro e queira passar um fim de semana em família, o presidente garante: “Temos oferta para uma semana ou duas, se for preciso.”
Para quem gosta de natureza, aponta a zona ribeirinha da Pateira de Fermentelos, com parques, observação de aves, trilhos para caminhadas e BTT, numa franja que se estende até ao Parque dos Pinheiros Mansos: “Consegue ter um dia inteiro de caminhadas ou desporto ao ar livre.”
Na gastronomia, a lista é generosa: leitão, bacalhau de várias formas, chanfana, frango de churrasco, tanto na zona nascente como na zona poente, sem destacar nomes concretos de restaurantes.
Para os amantes de museus e património, sugere a Radiolândia – o museu do rádio –, o Museu de Etnomúsica, o Museu São Pedro, na Palhaça (de iniciativa privada), e, no turismo religioso, várias igrejas e capelas centenárias, com destaque para a Igreja de São Miguel, na sede do concelho.
Mais recentemente, Oliveira do Bairro aderiu também ao turismo industrial, permitindo visitas a empresas como a Porcel e a outras unidades ligadas à cerâmica, metalomecânica e cooperativas agrícolas como a Calcóvia e a Kibic.

Educação, universidade e investigação
A ligação à Universidade de Aveiro já teve expressão concreta na antiga Cerâmica Rocha, recuperada para acolher formação superior. O curso que ali funcionava não abriu no ano letivo atual por falta de alunos, mas a intenção mantém-se: “A recuperação daquele espaço foi pensada para ser um centro de investigação ligado à universidade, em particular à Universidade de Aveiro e à cerâmica. A vontade do município é que possa vir a cumprir esse papel.”
Obras marcantes do último mandato
Questionado sobre “a obra que não pode deixar de fazer” neste último mandato, Duarte Novo responde sem hierarquizar, mas deixa claro um conjunto de prioridades.
A requalificação da Escola Secundária é uma delas: “É uma ambição com mais de 20 anos. A obra está em curso e será uma mudança radical. Será com muito gosto que assistirei à sua reinauguração.”
Outra prioridade é a conclusão da Unidade de Saúde de Oiã: “Ficarei extremamente satisfeito por deixar um contributo muito grande na área da saúde, garantindo espaços em todos os locais do concelho, além do que já existia na sede.”
As zonas industriais – atuais e futuras – e a rede viária, nomeadamente os desvios do trânsito pesado, estão também no topo da lista. E há ainda um sonho com forte carga simbólica: transformar a Casa Vila Bussa – o palacete – em arquivo municipal, requalificando toda a zona envolvente: “Seria algo que me deixaria extremamente feliz. Mas, se não conseguir concretizar tudo, quero pelo menos deixar o trabalho preparado para quem vier a seguir. O que importa é que esteja bem semeado, para ser colhido.”
Natal, família e o papel da retaguarda
Em plena época natalícia, Oliveira do Bairro tem, entre a Câmara e o Quartel das Artes, um espaço dedicado ao Natal, com diversões para crianças (e adultos) e uma grande tenda onde as associações expõem e vendem produtos. Para o presidente, o valor da iniciativa vai muito além da decoração: “O Natal é um movimento de todos nós. Juntar a sociedade num espaço, durante mais de 30 dias, é extremamente relevante. Queremos que os munícipes conheçam o tecido associativo, sem rivalidades, sem cores políticas, num projeto comum.”
No plano pessoal, Duarte Novo pede ao “Pai Natal” algo muito simples: “Acima de tudo, saúde. E discernimento para continuar a despender todas as minhas forças em prol do município, bem como espírito de união para a minha família e para todos os munícipes.”
Na mesa de Natal, o que não pode faltar é o convívio. Não é “muito de doces”, mas não resiste a um bom bolo-rei. Se tivesse de entregar a “fava” e o “brinde”, escolheria a mesma pessoa: a esposa. “Tem sido um pilar muito importante. Desde que nos conhecemos, estive sempre na política e ela sempre me compreendeu e acompanhou. Eu sou muito pela família que tenho. Sem uma retaguarda sólida, não acredito que possamos ser bons políticos.”

Uma mensagem para os trabalhadores, para o executivo e para os oliveirenses
Antes de terminar, Duarte Novo deixa uma palavra especial a quem trabalha na Câmara Municipal: “Eles são o rosto do município. São a vontade de Oliveira do Bairro. Só conseguimos fazer o que fazemos porque eles pensam connosco, idealizam connosco e sentem o território como sendo deles. Desde quem planta uma roseira ou arranja um bocadinho de calçada, até quem vê nascer uma obra que planeou há dez anos.”
Para os colegas de executivo, resume numa frase: “Não sou nada sem eles. Eu apenas represento uma grande equipa.”
Aos oliveirenses, a mensagem de Natal é clara: “Acreditem em vocês mesmos, acreditem no vosso território, acreditem em Oliveira do Bairro. Nesta época, que é de ternura e carinho, desejo-vos um Santo e Feliz Natal 2026, cheio de saúde e, acima de tudo, uma grande garra para continuarmos a trabalhar – onde quer que seja – para o nosso concelho e para um espaço cada vez melhor.”
E, quando lhe perguntam como quer ser lembrado um dia, responde sem hesitar: “Gostaria que Oliveira do Bairro se lembrasse de mim por ter contribuído para que o nosso concelho crescesse. Basta-me isso.”

